EDUCAÇÃO: UM NOVO MODELO A PARTIR DA BNCC


Regularmente os professores se reúnem com os gestores pedagógicos para planejar as ações que serão desenvolvidas. Do cronograma ao Plano de Ensino, incluindo saídas técnicas e modelos de avaliação. Durante uma semana são discutidas questões abrangendo a perspectiva do professor e as necessidades do aluno. Esse é o modelo predominante de pensar a Educação.

Entretanto, qual o impacto disso nos resultados do processo de aprendizagem? Pesquisas[1] realizadas para medir a qualidade, equidade e eficiência dos sistemas escolares, mostraram mais uma vez os alunos brasileiros nas últimas posições do ranking. Em termos gerais, das 72 nações pesquisadas pelo Pisa (2015), o Brasil ficou na 63ª colocação. Onde estamos falhando?

Se você se sente desconfortável com isso, não deixe de ler este texto até o final. Ele faz parte da Série Inovação na Educação e nele vamos falar sobre um novo instrumento para a Educação que traz como proposta o desenvolvimento de competências que darão condições para os alunos enfrentarem os desafios da contemporaneidade: a Base Nacional Curricular Comum (BNCC).

 

O que é a Base Nacional Curricular Comum (BNCC)

Quem é educador na sua essência, sabe que os alunos foram mudando seu perfil com o passar dos tempos. Do aprendiz que dizia amém a tudo que o mestre mostrava ao “cliente” que sempre tem razão, a realidade do ensino foi se alterando, mesmo que a escola (e por extensão, seus professores) tenham conseguido acompanhá-la.

 

Historicamente foram diversas as tendências pedagógicas que se sucederam (da tradicional à crítico-social dos conteúdos), todas buscando a melhoria na qualidade de ensino.

 

Consequência deste movimento incessante, em dezembro de 2017 foi homologada a Base Nacional Curricular Comum (BNCC), que se constitui em um “conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica”[2].

 

Desse modo, para que se obtenha melhores índices na educação brasileira, é preciso planejar a aprendizagem a partir do desenvolvimento de competências, campos de experiências e habilidades.

 

A BNCC abrange 10 competências a serem adquiridas desde a Educação Infantil ao Ensino Médio, oportunizando a formação humana integral, ou seja, aprendizagens que articulam a construção de conhecimentos, com o desenvolvimento de habilidades e formação de atitudes e valores. 

 

As Competências Gerais integram o capítulo introdutório da Base Nacional Comum Curricular e foram definidas a partir dos direitos éticos, estéticos e políticos assegurados pelas Diretrizes Curriculares Nacionais e dos conhecimentos, habilidades, atitudes e valores essenciais para a vida no século 21.

 

Em cada competência listada é destacado seu foco e resultado pretendido. Assim, mesmo enunciadas com temas amplos (Conhecimento; Pensamento científico, crítico e criativo; Repertório Cultural; Comunicação; Cultura digital; Trabalho e projeto de vida; Argumentação; Autoconhecimento e autocuidado; Empatia e cooperação; Responsabilidade e cidadania), é possível ter clareza sobre o que trata e para quê (propósito). 

Mas afinal, por que competências?

As transformações em curso no mundo exigem um novo profissional, alguém que esteja preparado para resolver problemas e situações complexas, as quais muitas vezes não foram previstas.

Sendo assim, cabe à Educação desenvolver a capacidade (competências) para que o sujeito mobilize ao mesmo tempo, na resolução do problema, conhecimentos, habilidades, experiências e atitudes de diversas naturezas.

 

Ser competente significa saber fazer escolhas, decidir, mobilizar recursos e agir.

Julio Furtado

 

Vemos então que a competência é construída a partir de saberes diversos que abrangem o saber saber (conhecimento), saber fazer (habilidades) e saber ser (valores). Todos estes possuem níveis de complexidade que são adquiridos de acordo com o estímulo recebido e o grau de consciência da aprendizagem. Desse modo, articulados os saberes, a aprendizagem será significativa e os resultados mais qualificados.

Como estão articuladas na BNCC?

Cada uma das 10 competências apresentadas está articulada em dimensões e subdimensões que elegem as habilidades a serem desenvolvidas numa perspectiva relacionada à Taxonomia de Bloom.

Desse modo, a cada nova aprendizagem é valorizado além da aquisição do conhecimento, a compreensão, aplicação, análise, avaliação e criação. Isso faz com que ele se transfigure em uma ação (atitude) que gera habilidades e novas posturas (valores).

Como a BNCC colabora no novo modelo de ensino?

A BNCC confirma seu compromisso com a educação integral, ou seja, reconhece que o desenvolvimento se dá de forma complexa e não linear, particular em cada um. Assumindo uma visão plural, singular e integrada do sujeito (criança, jovens e adultos), promovendo uma educação voltada ao seu acolhimento, reconhecimento e desenvolvimento pleno, nas suas singularidades e diversidades.

 

Para que a educação integral seja desenvolvida é preciso que alguns vícios ainda presentes sejam eliminados, como por exemplo a apresentação do conteúdo de forma sistematizada. Isto é, ao invés de apresentar um problema que envolve o conhecimento em questão, é apresentado “as características e funções” do mesmo.

 

Dito de outra forma, em vez de dar a laranja e deixar o aluno explorar da casca até o suco, já é servido o suco pronto. Sem mencionar que todos devem tomá-lo ao mesmo tempo, ou seja, tempo de aprender igual.

 

Ao eleger o ensino baseado no desenvolvimento de competências é preciso ter clareza de que a oferta de diferentes modos de aprendizagem é uma exigência natural para que a competência se desenvolva nos alunos, já que a diversidade é uma realidade.

 

Enfim, a BNCC vem para colaborar com as exigências atuais na construção de um novo modelo de ensino, que valoriza o desenvolvimento integral da pessoa, respeitando sua singularidade, onde a qualidade da educação é medida pelas competências desenvolvidas.

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[1] Segundo dados coletados pelo Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa). Fonte: http://portal.mec.gov.br

[2] Fonte: basenacionalcomum.mec.gov.br